Eu e o Felipe

Hoje eu não consegui responder a duas perguntas do Felipe, de 4 anos de idade. O Felipe olhou pra mim assim que cheguei e já soltou a primeira pergunta; não bastasse eu estar vestido com a minha tradicional roupa de trabalho, ele perguntou: Quem tu é? Eu disse: sou o Tiago, policial militar.

As perguntas que seguiram, numa velocidade estilo ‘de frente com Felipe’, a entrevistadora, deixaria Marília Gabi Gabriela de queixo caído. Humildemente, na longevidade dos seus 4 anos de idade, ele não era Marília nem Gabriela, mas era o Felipe. Ele seguiu pra segunda pergunta: Policial militar?

Eu: sim, policial militar, aquele que protege as pessoas!

– Por que proteger as pessoas?

Eu já comecei a estranhar a genialidade do Felipe, mas não podia deixar de responder a ele, com certa didática metafórica, mas lúdica, logicamente. “Proteger as pessoas porque algumas delas ficam com medo e chamam a polícia quando precisam”.

Senti que o Felipe não gostou muito da minha resposta, ele apontou pro meu colete e começou o disparo de outras tantas perguntas… o que era aquilo, apontando; eu respondi que era meu rádio. Apontou de novo e perguntou: E isso? Eu disse que eram minhas luvas.

Ele estranhou, me olhou dos pés à cabeça, pensou, apontou de novo e perguntou: E isso?

Eu falei que era um bolso, em que guardo meu telefone. Olhou pro outro bolso, menor e perguntou: e esse pequeno? Eu disse que nele estavam minhas algemas.

Ele se empolgou e prosseguiu: E isso daqui? Eu respondi que era a câmera policial.

_ Câmera policial, pra quê? _ Pra filmar o que está acontecendo, gravar tudo.

E ele voltou: Mas pra que gravar tudo?

_ Porque às vezes só falar o que aconteceu não adianta, nem sempre acreditam em mim, daí precisamos mostrar na televisão (eu e minha didática).

Felipe voltou a não gostar da minha resposta, olhou com discrição pra lateral da perna, apontou e falou baixinho: E isso aqui, é pra quê?

Na verdade eu achei que essa seria uma das primeiras perguntas, caso fosse prever a entrevista do Gabi, mas não. Felipe, ansioso perguntou de novo e eu tive que responder.

_ Essa é a minha arma, meu instrumento de trabalho.

Ele já soltou um, ‘mas pra quê?’, e eu achando que ia praticamente finalizar as perguntas, disse: Pra prender bandido que faz o mal.

Essa foi a antepenúltima pergunta do Felipe, a penúltima e a última vieram juntas, em seguida, a essa resposta. Ele disse: E por que que o bandido faz o mal e as pessoas não acreditam em você?

Meus olhos encheram de lágrimas, me controlei, mas ainda assim não consegui responder.

Blumenau, 11 de abril de 2023.

Tiago Mikael Garcia -Cabo PM

O cabo Tiago trabalha em Jaraguá do Sul, no 12º Comando Regional, mas atuou na Operação Força Blumenau entre os dias 10 e 14 de abril de 2023.