por Weslei Pauli

Quase que diariamente, a Polícia Militar atende ocorrências envolvendo pessoas que, por motivos diversos, atentam contra a própria vida. Seja o suicídio na forma tentada ou consumada, esta é uma das ocorrências mais traumáticas que pode acontecer, tanto para os familiares e conhecidos da vítima quanto para a guarnição que vai até o local. Infelizmente, este é um mal que está presente em nossa sociedade e como forma de conscientização e prevenção a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2003, instituiu o dia 10 de setembro para ser o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio.

A origem do Setembro Amarelo e todo esse movimento de conscientização contra o suicídio começou com a história de Mike Emme, um jovem estadunidense conhecido por sua personalidade alegre e carinhosa. Porém, em 1994, Mike cometeu suicídio com apenas 17 anos. Infelizmente nem a família, nem os amigos de Mike perceberam os sinais de que ele pretendia tirar sua própria vida.

No funeral, os familiares e amigos montaram uma cesta de cartões e fitas amarelas com a mensagem: “Se precisar, peça ajuda”. A ação ganhou grandes proporções e expandiu-se pelo país. Esse momento foi marcante, porque a partir deste fato, diversos jovens passaram a utilizar cartões amarelos para pedir ajuda a pessoas próximas. Desta forma, a fita amarela foi escolhida como símbolo do programa que incentiva aqueles que têm pensamentos suicidas a buscarem ajuda e as pessoas ficaram atentas aos sinais suicidas.

Desta forma, busco debater o tema sobre a ótica da Sociologia, ciência fundamental e que tem como objetivo estudar e desvendar os mistérios da sociedade. Para cumprir com o objetivo, trago para este debate um dos fundadores da disciplina, que também estudou o tema suicídio, o sociólogo Émile Durkheim (1858 – 1917).

Durkheim estudou um dos fatos mais íntimos do comportamento humano – o suicídio – e demonstrou, cientificamente com dados, que sobre ele pode haver uma determinação social, externa ao indivíduo, portanto ele demonstrou que a sociedade exerce uma pressão sobre o indivíduo levando a ele cometer este ato tão extremo.

Vejamos alguns conceitos importantes para entender o suicídio na sociedade:

Para Durkheim, a sociedade é anterior aos indivíduos, cabendo a estes obedecer às normas e às leis impostas para que a coletividade funcione em harmonia, ou seja, quando nascemos temos que nos adaptar a sociedade a qual pertencemos, se não fizermos isso, seremos punidos e sofreremos sanções. Para o autor, a sociedade funcionará corretamente se buscar a coesão social, a manutenção e a ordem social. Por meio das instituições sociais (família, religião, educação), pelo apelo da moral, da educação e das leis impostas, é possível garantir a integração e a harmonia social. Mas e aquelas pessoas que não se “encaixam”, ou não se sentem representadas na sociedade em que vivem, ou que, por motivos diversos e encontram em crises existenciais?

O bem-estar e a felicidade do indivíduo somente é possível quando há um equilíbrio entre as expectativas e exigências individuais e os meios sociais. Quando o indivíduo não consegue alcançar o que deseja, seja por imposição da sociedade ou mesmo por uma deficiência própria, cria-se uma situação de crise, chamado pelo autor de anomia social. É quando se instala a doença na sociedade.

O estudo do suicídio manifesta evidentemente uma ruptura de laços sociais, é quando a anomia social já está imposta. Nesse estado, os laços que prendem o indivíduo ao grupo estão enfraquecidos, e o indivíduo passa a pensar de maneira mais particular, sem levar em conta as regras, normas e imperativos dados pela coletividade. As instituições sociais, como família, religião, justiça e a educação começam a não fazer mais sentido, e é aí que o pensamento suicida se manifesta.

Para Durkheim há três tipos de suicídio, que seriam:

Suicídio Egoísta: é quando o indivíduo não sente mais vontade de viver porque não se sente mais identificado com a sociedade em que vive, exemplo quando os indivíduos não são correspondidos amorosamente, ou quando passam por brigas familiares, processos de separação, dentre outros problemas.

Suicídio Altruísta: é quando o indivíduo sente um dever para com a sociedade em que vive, como exemplo, os kamikazes japoneses na segunda guerra mundial ou os homens-bomba muçulmanos.

Suicídio Anômico: ocorrem em situações de crise, como por exemplo crises econômicas, onde pessoas que perdem todos os seus bens não veem mais condições para reverter a situação onde se encontram e acreditam que a única opção seria tirar a própria vida.

Em suas reflexões, Durkheim também buscou meios para conter essa doença social. E a forma possível que o autor encontrou foi por meio da educação.

Nesse sentido, a educação está investida de um sentido de educação moral e acolhedora, pois assume a condição de elemento fundamental na preservação da coesão social. Para Durkheim, educação é sinônimo de socialização e paz social.

Para nós, policiais militares, que estamos na linha de frente e lutamos diariamente na busca pela paz social para garantir uma sociedade feliz e ordeira, devemos entender como o crime acontece e porque ele acontece, e saber os motivos que levam as pessoas a tirarem a própria vida é de fundamental importância.

Assim, diante de todas essas importantes reflexões realizadas sobre o tema suicídio, é imperativo que assimilemos e ecoemos para todas as pessoas a mensagem que deu origem ao Setembro Amarelo:

“Se precisar, peça ajuda.”